Sergio Castiglione
Uma Alma de Bruxo
Textos
OS NOVOS SEMI-DEUSES

Hoje de tardinha, andando de carro por uma rua do subúrbio, do Engenho de Dentro, passei pelo lugar chamado “Buraco do Lacerda” que dá acesso à Avenida dos Democráticos ao lado da Cidade da Polícia, entre Benfica e Jacaré.

Passeio antigo de outras eras, quando tinha uma tia que vivia em frente à Telerj, um parente que morava em bela casa da Avenida Itaoca e de um outro que morava na Rua Aimoré e era proprietário de um posto de gasolina na Avenida Brás de Pina, onde também ficava a loja de tintas do pai de uma namorada.

Hoje, ao atravessar esta região agora conflagrada, esburacada, desassistida, perigosa para si e para os passantes, observei em uma das calçadas um colega de profissão, jaleco amassado, maleta corroída, olhar angustiado.

Lembrei dos médicos da minha infância, de suas figuras e de suas atitudes, éticas, comprometidas, profissionais e valorizadas.

Do médico da família que a todos assistia, em casa ou na farmácia, por vezes subindo os morros do entorno de sua casa, ali em São Cristóvão, perto do Pedregulho.
Dr. Heitor, que de todos cuidava do nascimento ao fim da vida, que ensinava, que foi Diretor do Hospital dos Marítimos no Andarai, quando não havia SUS nem INAMPS.
Que foi detido em sua sala em 1964 e, levado ao DOPS lá não ficou porque apesar de ser próximo ao Governo deposto, tinha bagagem respeitada pelo tanto que fizera a tantos.

Do meu pediatra, Dr Paschoalino, na Rua Domicio da Gama, junto à Rua do Matoso, cuja competência, amizade, voz e toque, reconheceria em qualquer momento.

Mas o tempo passou e o que vemos hoje é uma inversão de qualificação tanto dos subúrbios do Rio quanto dos profissionais da Saúde.


Rotos em diversas interpretações alavancadas por um processo de informação que os coloca em situação de baixa estima enquanto as manchetes a seu respeito trazem alto grau de retorno às rotatórias, oratórias, blogs, câmeras, e intenções de voto.


A classe de profissionais que vive da informação, que tantas vezes denunciou uma espécie de corporativismo entre os profissionais da saúde dos quais as entidades representativas perderam espaço, voz e vez, têm (elas sim) toda uma estrutura corporativista que os protegem com entidades fortalecidas e segredo garantido para tudo que trouxerem ao conhecimento público, isentadas assim de juízos corretos ou levianos


Há muito tempo não se ouve falar ou se lê algo sobre aquilo que foi batizado como “a máfia de branco”

Assim como nada mais se refere aos “tubarões do ensino”.


As togas têm agora outros donos e as verdades têm sido
prerrogativas requisitadas por outro grupo de Semideuses que, para seu ou nosso governo, invadem sua casa mesmo com a porta fechada, e a sua mente mesmo que você resista.
Sergio Castiglione
Enviado por Sergio Castiglione em 29/11/2023
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