WILL VEM SEMEAR
(27/08/19)
Não havia novidade neste acordar inquieto.
A cama excessivamente quente fez Will descer de forma rápida sem sequer se preocupar em dobrar os lençóis.
Levantei sem ver dobrado, sem ressaca, apesar do vinho francês do dia anterior.
Tinha sede.
Encontrei Will em pose agachada ao lado do enorme jardim.
Tinha as mãos escurecidas pela terra que escavava e onde depositava algo com esmerado cuidado, resmungando, germinando.
Virou-se em minha direção e num pulo digno de tigre asiático arrebatou-me das mãos a garrafa de água.
O ato era lógico, pensei.
Seria, se Will além da costumeira metamorfose ambulante, não fosse também uma criatura de Deus, de certa forma inacabada.
Saio da reflexão e vejo que a garrafa está intacta ao seu lado e que, salivando, rega e aduba o que um dia vai comer, se não faltar.
Me olha de rabo de olho.
Vê que estou curioso e me devolve a garrafa com um rosto que transparece serviço bem feito.
Pergunto porque não usou a água, ao invés da saliva.
Diz que preferia até urina.
Tento falar que a água é .....
Me interrompe com dedo do silêncio à boca
Que a água é ....
Me interrompe com o dedo da sabedoria aos céus
Que a água é ....
Me interrompe como só Will sabe fazer
É mineral, digo
Está contaminando, tem gás, diz Will.
Aponta o dedo à Noroeste.
E me pergunta: sabe quanto custa semear?