O FIO DA FELICIDADE
2011 (29/12) para 2012
Penúltimo dia do ano,
cidade trocando de donos,
cariocas felizes aos Lagos,
e paulistas alegres ao Rio.
Dia de trocas.
No shopping com minha filha mais velha, os olhares curiosos sobre o afeto trocado entre o velho e a moça, descobri que a contabilidade do Natal deveria ser feita na hora de trocar os presentes ganhos.
Um número maior,
uma cor fora de moda,
um gosto pessoal,
tudo a vinte reais.
Três trocas e felicidade a sessenta.
Famílias inteiras, originais ou em partes trocadas e recompostas, ocupavam todos os espaços, lojas, corredores, banheiros, quiosques, as praças de alimentação.
Dia 29,
inhoque da fortuna a dois no Spoletto, cartão de crédito colocado sob o prato para que se multiplique o dinheiro de plástico de 600% ao ano.
Crianças cortando os ares e as conversas, com ensurdecedora alegria na expectativa de algo a mais, capitalizando o que deveria ser lúdico.
Tem que ter câmera de 10,
tecnologia 4G,
acesso ao Face.
PS3 e Xbox.
Grupos de adolescentes cada vez mais jovens, e a cada dia mais envelhecidos, trocando o prazer das lentas descobertas pela rapidez e efemeridade do prazer fugaz.
A escolha do bem a adquirir,
medida em gigabytes.
Plasma por LCD,
LCD por LED,
LED por 3D.
Dia de trocar uma parte do passado, remexer gavetas e a parte de cima dos armários.
Dia de trocar guardados, desamarrar os antigos, jogar fora, atar o novo.
Dia de planejar o ano seguinte,
de amarrar a felicidade.
Então,
quase sempre nos faltam fios,
e nos sobram nós desfeitos.
Por um fio, não falei o que eu queria.
A todos, desejar que este seja um ano mais amigo, mais pacífico, mais harmonioso.
Sei que num mundo Wi-Fi é cada vez mais difícil amarrar o que se ganha à felicidade.
Posso oferecer
o barbante do meu carrinho de bombeiros, a corda do meu pião,
dois io-iôs da Coca-Cola.
Estavam guardados
junto com uma coleção de Tazos
e fotos de Golfinhos.
Feliz Ano Novo.