2013 (Flor do Amanhã) UM GRITO
UM GRITO
Vai ficar aí parado?
Estou ouvindo o grito da cerca.
Sentindo o cheiro.
Não tinha visto.
Desde quando?
Colocaram na calada da noite.
O que ela diz?
Não pise na grana.
Na minha grama.
Tem cheiro de grama?
De mão de criança.
De pimenta. De vinagre.
De pólvora.
Uma cerca no jardim.
De quem é a casa?
Tem muitos donos.
Do Povo.
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Ouvi gritos na madrugada.
Foi seu filho?
Meu filho não dormiu em casa.
Não teria sido um dos filhos dele?
Mas calou-se.
Emudeceram.
Todo mundo ouviu, não foi?
Todo mundo ouve, Todo mundo vê.
Todo mundo grita.
No meio da noite
Os sons se misturam.
F tem som de B.
Todo mundo cala.
Foi carregado?
Foi, parece que foi.
Carregador.
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Voce acredita nisso?
Quatro. E ninguém reagiu.
Ninguém gritou?
E a história da escola?
A do carro?
Entra e sai. Tempo perdido?
O olhar era doce.
E o sorriso.
Era.
Ficou a capa do perfil.
Jogos de videogame.
Templários.
Assassinos.
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Eles crescem,
Correm nas ruas, gritando.
Escapam dos dedos.
Perdem o controle.
Assumem os controles.
Não podem ser controlados.
Têm que crescer.
Dominar o jogo.
O jogo é da vida.
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São todos jovens.
Nem todos jovens.
Levam velhos ideais.
Porque estão mascarados?
É uma espécie de uniforme.
Uma espécie de grito.
Sem saber.
Sem se entender.
A marcha. A tropa. A palavra.
Inglês.
À soldo.
Soldado.
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Seu filho, então.....?
Arquiteto, estudante, médico.
Vagabundo, safado.
Professor, pipoqueiro, engenheiro,
Metalúrgico, desempregado.
Entregador de pizza.
Policial militar,
Bombeiro com muito orgulho da farda.
Aquele vândalo.
Preocupado?
Pois é, com meus filhos.
São crianças.
O meu filho......
Sonhador,
Jardineiro.
Se embrenhou na multidão,
Vestiu-se do luto,
Carregou pedras.
Me pediu vinte centavos.
Levou azul,
E minhas sementes.
Não dormiu em casa,
Saiu por aí gritando.
Vou plantar Flor do
Sergio Castiglione
Enviado por Sergio Castiglione em 07/05/2024