Embora seja difícil acreditar, é certo que os frutos virão.
A seu tempo.
As sementes iniciam,
A natureza replica.
Até lá, luta e semeaduras.
Com perfume, cor, poesia
Velas,
Orquídeas,
Caqui.
A Semente
Quando ele veio para esta casa a árvore já estava lá e desde então não houve ano em que ela não fizesse seu ciclo completo, de gravetos secos a pequenas flores, da morte aparente aos frutos doces de abril, partilhados com vizinhos e sanhaços, e morcegos e sementes.
E às vezes, trocados por pimenta
Dia de Páscoa, de renascimento.
Neste ano as comemorações pela vida, a que fica, a que não foi extinta pela epidemia, necessitam da distância que se quebra pelo amor que frutifica.
Sentado na poltrona, que para tantas antes dele serviu de repouso, ao lado da porta de vidro que guarda a casa, ele lembra das brincadeiras de caça aos ovos escondidos, tão comuns na infância.
Dias atrás, usando o tempo que lhe sobra, ele se lançara a caçar escritos, lembranças, guardados.
Encontrou tesouros, destes que são tão importantes que se guardam enrolados em pano dentro de um baú no sótão, para que ninguém os encontrem a não ser no dia certo.
Três tubos de plástico, de aniversários de crianças, queridas crianças, dos quais ele se deliciara enquanto comia as pastilhas coloridas de chocolate que os preenchiam.
Movido por um despertar desconhecido, ele depositou neles as sementes do caqui que comera e as cobriu com a terra mais promissora que encontrou.
A da horta das pimentinhas.
Ali sentado, sente falta de suas sementes, filhos e filhas, netos e netas, e sabe que irão florescer.
É preciso apenas tirar do baú, desenrolar o pano colorido, e adubar com amor, pimenta e chocolate.
E viver o tempo que separa os Domingos
Na porta, transparece uma figura que, já tendo deixado um ramo de esperança há alguns dias, agora enlaça na grade um símbolo, uma semente.
E a fé na renovação.