CORDÕES
(05/2011)
Tá certo.
Podem dizer que eu tive, ou tenho, uma infância estendida.
Pediatra é assim mesmo, criança pra sempre.
Ou brinca ou não desce pro play, que é a sala de espera do consultório.
E não cura.
É verdade que o lúdico fez parte da minha formação, com uma intensidade (hoje escassa) de cantigas noturnas de mãe, meio-fios de rua, e viagens pra roça.
E bota mãe nisso.
Do cordão que se mantém ligado, enganando os tolos que acham que o cortaram logo após o nascimento, passa um fluxo contínuo, diário, incontrolável, imperceptível tanto quanto gigantesco, de energia vital.
E de sorrisos.
E de felicidade.
E fé.
Os cordões umbilicais habitam dimensões que não vislumbramos, fortes, entrelaçados, emaranhados, e dirigidos a nós por linhas pontilhadas.
De dias. De noites.
De sonhos.
Também tenho a meu favor o nascimento “precoce” de um filho em 1980 e de uma filha em 1982.
Falcon e Pequenos Pôneis sempre estiveram presentes.
Disputando espaço com o Nacional Kid e o Batman.
Então está justificada a repetição de uma musiquinha que há dias não sai da minha cabeça.
Quando sentei para escrever, pensava em antepor passado e presente em versos críticos.
Comparar nossas infâncias de Bebês com as infâncias BBBs dos nossos filhos.
Em casa, pela manhã, orei mais uma vez por um dia de bom humor.
E dizia para minha sogra:
“Sempre rir, sempre rir. Pra viver é melhor sempre rir”.
Lembrei do Bozo.
Do papai (Papudo).
Da vovó (Mafalda).
Dos meus filhos.
Da minha mãe, para a qual não declino nome.
Qualquer nome, chamado mãe, tem a mesma força.
Pois delas vêm os cordões.
Que amarram a crônica fugidia que escrevi.